Eunice Paiva é homenageada com selo dos Correios

foto : divulgação

Flavio Sartori 

A memória e a luta incansável de Eunice Paiva contra os horrores da ditadura militar brasileira foram celebradas com o lançamento de um selo postal em sua homenagem. A cerimônia ocorreu durante o evento de entrega da Ordem do Mérito Cultural, no recém-reinaugurado Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O selo, que apresenta uma fotografia em preto e branco de Eunice Paiva sorrindo, ladeada por três pombas brancas — símbolo universal da paz —, é mais do que uma peça filatélica: é um marco de memória. “Ao relembrar a história de sua mãe, Eunice Paiva, Marcelo Rubens Paiva contou a história de tantas mulheres brasileiras órfãs de maridos, filhos e filhas, mas que não se deixaram vencer pela tirania”, destacou o presidente Lula durante o evento.

O filho da homenageada, o escritor Marcelo Rubens Paiva, e seu neto Joaquim Paiva participaram da obliteração simbólica do selo, recebendo um álbum com a peça lançada das mãos do presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos. A atriz Fernanda Torres, que interpreta Eunice no premiado longa “Ainda Estou Aqui”, e o diretor Walter Salles, também foram agraciados com exemplares do selo.

Eunice Paiva ganhou notoriedade nacional e internacional por sua luta para descobrir o paradeiro do marido, o deputado Rubens Paiva, sequestrado e assassinado pelos agentes da ditadura militar em 1971. Sua busca incansável pela verdade tornou-se símbolo da resistência democrática e inspiração para o livro e o filme homônimos Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025.

Marcelo Rubens Paiva, emocionado, reforçou o legado da mãe: “Quem está aqui hoje não sou eu. Quem está aqui é Rubens Paiva e Eunice Paiva. Como é importante olhar o passado e se entender, para corrigir o presente e pensar no futuro.”

Formada em Direito, Eunice Paiva foi uma das poucas especialistas em direito indígena no país e atuou como consultora na Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Sua atuação firme em defesa dos povos originários e dos direitos humanos marcou uma trajetória singular, que ajudou a construir bases fundamentais da atual democracia brasileira.

Em 1996, após 25 anos de luta por memória e justiça, Eunice conseguiu a emissão oficial do atestado de óbito do marido — um reconhecimento tardio, porém histórico, da violência de Estado praticada no período da ditadura.