Preocupações dos latino-americanos refletem cenário de incerteza econômica e tensão geopolítica, segundo Kantar

fonte : Reddit


Flavio Sartori 

Em meio a desafios econômicos persistentes e uma crescente sensação de insegurança, os latino-americanos demonstram um aumento na apreensão quanto ao futuro — tanto dentro quanto fora de seus países. Segundo a terceira edição do estudo Pressure Groups Latam, realizado pela Kantar Worldpanel, além das já conhecidas angústias relacionadas ao emprego, saúde e segurança, ganha força um novo fator de tensão: o possível retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

A pesquisa, que ouviu quase 15 mil pessoas em oito mercados da América Latina, revela um cenário multifacetado de preocupações. A insegurança financeira permanece no topo, com a maioria dos entrevistados preocupada em manter o emprego e garantir o bem-estar da família. Mas essa realidade varia bastante de país para país.

No Equador, por exemplo, a insegurança é o principal temor para 43% da população, reflexo direto da crise social e econômica que se agrava desde 2021. No Peru, Brasil e Argentina, o destaque são os desastres ambientais, que ocupam lugar significativo entre os temas mais angustiantes.

Contudo, a geopolítica entrou de vez no radar popular. No México, 12% da população teme os impactos de uma possível reeleição de Trump, especialmente sobre as políticas migratórias e o envio de remessas por mexicanos que vivem nos EUA — uma fonte crucial de renda para o país, representando 4,5% do PIB. Já no Panamá, a preocupação chega a 14%, superando até mesmo a média mexicana, devido à importância estratégica do Canal do Panamá e sua forte ligação com interesses norte-americanos.

A realidade econômica também define o comportamento de consumo. O estudo categoriza os latino-americanos em três perfis financeiros:

  • Comfortable (financeiramente tranquilos),

  • Managing (controlando os gastos com equilíbrio),

  • Struggling (vivendo no limite).

Em 2025, houve leve melhora: os Comfortable passaram a representar 27% da população, enquanto os Struggling caíram para o mesmo patamar. Porém, esse equilíbrio regional esconde contrastes profundos. No México e no Chile, por exemplo, a fatia da população confortável aumentou de forma notável. Já na Colômbia, Equador e Bolívia, a vulnerabilidade cresceu — só na Colômbia, o número de pessoas no grupo Struggling saltou de 28% para 34%.

Esse quadro demonstra que, apesar de sinais de recuperação em alguns países, a sensação de instabilidade ainda é dominante. Isso afeta diretamente as decisões de compra: nos mercados mais vulneráveis, consumidores evitam gastos e focam no essencial. Em contrapartida, onde há maior segurança financeira, cresce o número de pessoas que buscam ativamente por promoções e oportunidades.

Segundo Kesley Gomes, diretor da Worldpanel, entender essas nuances é crucial: “A situação financeira influencia a forma como os latino-americanos compram. Saber onde está a pressão permite que a indústria de bens de consumo se conecte de forma mais relevante com os diferentes perfis da região.”

O estudo revela uma América Latina em busca de equilíbrio. Enquanto parte da população vê uma luz no fim do túnel, com aumento da estabilidade financeira, outra ainda vive sob o peso das crises e incertezas políticas — agora agravadas pela possibilidade de mudanças no cenário internacional. O temor de que decisões tomadas nos Estados Unidos possam impactar diretamente a economia local demonstra o quanto os latino-americanos se sentem vulneráveis a fatores externos.

Em meio a essa realidade, a principal mensagem é clara: o povo latino-americano continua resiliente, mas sua preocupação com o futuro — em todas as esferas — não pode ser ignorada.

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