ANFAVEA : Semestre de Alta com Sinais de Alerta para o Futuro


Flavio Sartori

A indústria automotiva brasileira encerrou o primeiro semestre de 2025 com um crescimento de 7,8% na produção em comparação com o mesmo período do ano anterior. Apesar do indicador positivo, a desaceleração observada em junho e o aumento das importações, especialmente de veículos chineses, geram preocupação e indicam um segundo semestre desafiador para o setor, conforme alertado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Os dados de junho revelaram uma queda no ritmo de produção, com uma redução de 6,5% na produção, 5,7% nos emplacamentos e 2,7% nas exportações. Além disso, houve uma perda alarmante de mais de 600 empregos diretos na indústria automotiva nos últimos meses. Igor Calvet, Presidente da Anfavea, expressou sua preocupação com esses números. “Os números de junho nos preocupam um bocado. O dia útil a menos em relação a maio não justifica as quedas que tivemos no mês, de 6,5% na produção, 5,7% nos emplacamentos e 2,7% nas exportações, além de uma alarmente redução de mais de 600 empregos diretos nos últimos meses”, afirmou Calvet.

A produção acumulada no semestre atingiu 1.226,7 mil unidades, impulsionada em grande parte pelo aumento de 59,8% nas exportações, totalizando 264,1 mil unidades. No entanto, essa boa notícia vem com um adendo: a maior parte desse crescimento se deve à recuperação do mercado argentino. No semestre, 60% dos embarques foram destinados à Argentina, o que levanta preocupações sobre a dependência do Brasil em relação ao país vizinho para manter os níveis de exportação, já que não houve altas significativas para outros mercados, e em alguns casos, como o México, houve perda de participação.

No mercado interno, os emplacamentos nos primeiros seis meses somaram quase 1,2 milhão de unidades, um aumento de 4,8% em relação ao modesto primeiro semestre de 2024. Uma análise mais detalhada revela que os autoveículos nacionais cresceram apenas 2,6% no período, enquanto os importados registraram um salto de 15,6%. A situação é ainda mais preocupante no varejo de veículos leves nacionais, que apresentou queda de 10% nas vendas em comparação com o primeiro semestre de 2024. Em contrapartida, modelos vindos da China já representam 6% do mercado brasileiro, com mais de 110 mil veículos chineses em estoque no país. A média diária de vendas em junho foi inferior à do mesmo mês do ano passado, um recuo que não ocorria há quase dois anos.

O segmento de caminhões apresenta um cenário mais delicado, com os emplacamentos recuando 3,6% no semestre em relação ao mesmo período de 2024. Embora a produção ainda esteja 3,1% mais alta, a desaceleração é notável mês a mês. As melhores notícias vêm do segmento de ônibus, que registrou alta de 7,3% na produção e um expressivo aumento de 31,3% nas vendas.

As importações acumuladas no primeiro semestre cresceram 15,6%, totalizando 228,5 mil unidades. Igor Calvet ressaltou a gravidade desse volume: “Esse é um volume equivalente ao que se produz anualmente numa fábrica nacional de grande porte, com mais de 6 mil funcionários diretos, sem levar em conta as vagas geradas na cadeia de fornecimento”. O presidente da Anfavea alertou para o fluxo perigoso de veículos chineses no mercado brasileiro, beneficiados por um Imposto de Importação abaixo da média global. Ele enfatizou que a entidade não ficará passiva diante da interrupção de um projeto de neoindustrialização do país e do avanço de propostas que não geram valor agregado nacional e pouquíssimos empregos, como a redução da alíquota para montagem de veículos semi-desmontados (SKD).

Diante desse cenário, a indústria automotiva brasileira se encontra em um momento crucial. Apesar do crescimento semestral, os sinais de desaceleração, a crescente dependência do mercado argentino para exportações e, principalmente, o avanço das importações, especialmente de veículos chineses, exigem atenção e ações coordenadas para garantir a sustentabilidade e o desenvolvimento do setor no longo prazo. A Anfavea reitera seu compromisso em defender a indústria nacional e os empregos gerados por ela, buscando um ambiente de mercado mais equilibrado e justo.


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