Fundos de investimento têm resgates líquidos de R$ 37,8 bilhões no 1º semestre de 2025


Flavio Sartori

A indústria de fundos de investimento no Brasil encerrou o primeiro semestre de 2025 com resgates líquidos de R$ 37,8 bilhões, em um cenário marcado por volatilidade e cautela. O resultado representa uma reversão em relação ao mesmo período do ano passado, quando houve captação líquida positiva de R$ 190 bilhões. Nos últimos cinco anos, o desempenho semestral só não foi pior do que o observado em 2023, quando as saídas líquidas chegaram a R$ 124,7 bilhões.

Os fundos multimercados lideraram os resgates no acumulado entre janeiro e junho, com retiradas líquidas de R$ 78,9 bilhões, patamar semelhante ao de 2024 (R$ 80,8 bilhões). Já os fundos de ações tiveram saídas líquidas de R$ 43,6 bilhões, revertendo o fluxo positivo de R$ 8,1 bilhões registrado no primeiro semestre do ano passado.

Para Pedro Rudge, diretor da ANBIMA, o desempenho da indústria reflete um cenário macroeconômico desafiador. “Há incertezas políticas e econômicas que têm levado os investidores a uma postura mais cautelosa, com alocação seletiva em ativos de maior risco”, afirma.

O semestre foi marcado por fortes oscilações nos fluxos de captação. Fevereiro e abril registraram saídas expressivas de R$ 24,5 bilhões e R$ 52,4 bilhões, respectivamente. Já janeiro, março e junho fecharam com captação líquida positiva de R$ 14,2 bilhões, R$ 11,7 bilhões e R$ 13,6 bilhões. “Esse comportamento sugere que os investidores estão reavaliando suas estratégias diante do ambiente incerto”, complementa Rudge.

Na contramão das demais categorias, os fundos de renda fixa fecharam o semestre com saldo positivo de R$ 59,4 bilhões, embora bem abaixo dos R$ 199,6 bilhões captados no mesmo período de 2024. O destaque ficou por conta dos fundos do tipo duração baixa soberano, que investem em títulos públicos de curto prazo, com entrada líquida de R$ 59,8 bilhões. Também se destacaram os fundos de duração livre crédito livre, com captação de R$ 26,8 bilhões.

Na análise de performance, os fundos de renda fixa do tipo duração livre crédito livre tiveram retorno de 7%, superando o CDI, que avançou 6,4% no semestre. Entre os multimercados, os fundos long and short neutro – que limitam a exposição líquida a 5% – foram os mais rentáveis, com alta de 12,6%.

Já no segmento de ações, os fundos setoriais se destacaram com retorno médio de 35,8%, mais que o dobro da valorização do Ibovespa no período, que foi de 15,4%.

Com prazo de adaptação encerrado em 30 de junho, a indústria de fundos também avançou na adequação à Resolução CVM 175. Até o dia 3 de julho, 26.738 fundos — o equivalente a 82% do total — já estavam adaptados ou em processo de adaptação. A expectativa é que esse número se aproxime dos 100% até 15 de julho, prazo limite para envio de informações à ANBIMA após o registro na CVM.

Julya Wellisch, diretora da ANBIMA, destaca que a transição foi complexa, mas bem-sucedida. “Com os principais requisitos atendidos, o setor entra agora em uma fase de aperfeiçoamento das estruturas, explorando as flexibilidades da nova norma”, diz.

Entre os fundos adaptados, 73% optaram pelo regime de responsabilidade limitada dos cotistas — o que limita perdas ao valor investido —, e 62% declararam a possibilidade de investir em ativos no exterior, aproveitando a permissão da nova regulação para alocar até 100% dos recursos em mercados estrangeiros, desde que cumpridos os requisitos legais.

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