Huawei retorna, pela quarta vez, ao mercado brasileiro de smartphones, aposta em luxo e ignora o 5G


 Flavio Sartori

Após seis anos fora do mercado brasileiro de smartphones, a Huawei está de volta, pela quarta vez e apostando alto. A empresa chinesa anunciou o lançamento de dois modelos dobráveis topo de linha: o Huawei Mate XT Ultimate Design e o Huawei Mate X6, ambos com preços considerados exorbitantes e, para surpresa de muitos, sem suporte à conectividade 5G.

O destaque da nova fase da empresa no país é o Mate XT Ultimate Design, um smartphone dobrável com mecanismo tri-fold, que chega com preço sugerido de R$ 32.999 — o mais caro já lançado oficialmente no Brasil. Já o Mate X6, modelo também dobrável, desembarca com valor igualmente elevado: R$ 22.999.

A estratégia da Huawei de iniciar seu retorno com dispositivos de luxo, voltados mais à exibição tecnológica do que ao volume de vendas, tem gerado críticas de especialistas e consumidores. Em um mercado altamente sensível a preços como o brasileiro, a aposta por aparelhos premium — especialmente sem 5G — levanta dúvidas quanto à aceitação do público. Marcas como Samsung e Apple, por exemplo, oferecem modelos dobráveis compatíveis com a quinta geração de redes móveis por preços significativamente menores.

A ausência do 5G nos modelos lançados é explicada pelas sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos, que impedem a Huawei de utilizar componentes de empresas americanas — entre eles, chips compatíveis com a tecnologia. Sem o suporte nativo, a conexão 5G depende de soluções alternativas, que esbarram nas restrições legais.

Outro diferencial (e possível obstáculo) dos aparelhos é o sistema operacional. Em vez do Android com os tradicionais serviços do Google, os smartphones rodam o HarmonyOS, plataforma própria da Huawei. Os usuários contam com a loja AppGallery e podem utilizar ferramentas como o MicroG para simular os Serviços Móveis do Google — com funcionalidades limitadas.

O retorno da marca ocorre em um cenário bem diferente daquele que encontrou anos atrás. O mercado brasileiro hoje está mais competitivo, com a presença de marcas como Xiaomi, OPPO, Realme, Jovi e Honor — esta última, inclusive, foi uma submarca da Huawei até ser vendida em 2020 para escapar das sanções.

Com essa nova investida, resta saber como a Huawei irá posicionar seus produtos em meio a um ecossistema mais diversificado e exigente, e se os consumidores brasileiros estarão dispostos a investir cifras tão elevadas por dispositivos que, apesar do apelo de inovação, deixam de lado tecnologias já consolidadas no país.

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