Idec denuncia influenciadores, Meta e Bimbo do Brasil por publicidade abusiva de ultraprocessados voltada a crianças
![]() |
divulgação |
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) protocolou uma denúncia formal contra sete influenciadores digitais, o grupo Meta (controlador do Instagram) e a empresa Bimbo do Brasil, fabricante dos bolinhos Ana Maria, por promoverem publicidade considerada enganosa e abusiva voltada ao público infantil. A ação foi encaminhada à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e ao Procon-RJ.
Entre os influenciadores citados estão Marina Mazzelli, Thiago (conhecido como Pai Solo Thiago), Camila Queiroz, Isabelli Gonçalves, Keila Pinheiro, Luma (Papo Materno) e Bruna Ruiz Rossi. Segundo o Idec, essas personalidades digitais participaram de ações promocionais da linha Ana Maria no Instagram, estimulando o consumo de produtos ultraprocessados entre crianças, especialmente em contextos familiares e escolares.
A denúncia argumenta que as campanhas infringem o Código de Defesa do Consumidor (CDC), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Constituição Federal. O instituto cita, entre outras normas, o artigo 227 da Constituição, os artigos 6º, 37 e 39 do CDC, e a Resolução nº 163/2014 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que proíbe publicidade dirigida ao público infantil com apelo comercial.
A partir de uma análise conduzida pelo Observatório de Publicidade de Alimentos, o Idec identificou que os 14 produtos da linha Ana Maria avaliados são ultraprocessados, contendo aditivos com funções cosméticas, altos teores de açúcar adicionado e, em alguns casos, gordura saturada. Ainda foram detectadas informações consideradas enganosas nas embalagens — como os sabores “baunilha” e “mel”, que não aparecem de fato na lista de ingredientes.
Além das embalagens, as campanhas “O Sabor de Ser Criança” (2024) e “Volta às Aulas” (2025) também são alvo da denúncia. O Idec aponta o uso de personagens animados, linguagem lúdica, ambientações escolares e atividades interativas como estratégias claras para atrair o público infantil — o que, segundo o instituto, configura abuso e exploração comercial.
A nutricionista Mariana Ribeiro, do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, explica que a combinação entre estratégias de marketing, apelos visuais e alegações como “fonte de cálcio” ou “contém vitaminas” cria uma percepção enganosa de que os bolinhos seriam opções saudáveis para o lanche escolar.
“O excesso de cores, a linguagem acessível ao público infantil e o foco em nutrientes específicos são formas de desviar a atenção do principal: são produtos ultraprocessados, contraindicados para o consumo infantil”, afirma Mariana.
O Idec também argumenta que a exposição das crianças a esse tipo de publicidade compromete sua autonomia e bem-estar, desrespeita a prioridade absoluta da infância nas políticas públicas e induz pais, mães e responsáveis ao erro.
Caso as denúncias sejam acolhidas, os envolvidos podem ser responsabilizados por infrações ao CDC e ao ECA, estando sujeitos a sanções administrativas e multas. O Idec reforça que a responsabilização deve incluir não apenas os influenciadores, mas também as plataformas que veiculam esse tipo de conteúdo e as empresas que patrocinam as campanhas.
“A proteção da infância contra práticas comerciais predatórias deve ser um compromisso coletivo — e o poder público precisa agir com firmeza para coibir violações que afetam diretamente a saúde e o desenvolvimento das crianças brasileiras”, finaliza o instituto.
Comentários
Postar um comentário