Fraudes digitais disparam entre jovens no Brasil.

IA

Flavio Sartori

O cenário das fraudes digitais no Brasil ganha um novo e preocupante contorno: o crescente número de vitimas jovens. Dados recentes do Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian revelam um aumento alarmante de 50,2% nas tentativas de golpe direcionadas a pessoas com até 25 anos em abril de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Este movimento indica uma mudança estratégica por parte dos criminosos, que agora miram um público altamente conectado, mas com menor histórico de crédito e, possivelmente, menos familiaridade com as complexidades das ameaças digitais. O país, de forma geral, continua a enfrentar um volume massivo de ataques, com mais de 1,1 milhão de tentativas de fraude registradas no mês, mantendo o patamar acima de um milhão desde janeiro.

O crescimento expressivo de 50,2% nas tentativas de fraude contra jovens de até 25 anos é um sinal claro de que os criminosos estão adaptando suas táticas. Tradicionalmente, os golpes visavam perfis com maior histórico de crédito e poder aquisitivo. No entanto, a facilidade de acesso a informações e a menor experiência digital dos mais jovens os tornam alvos vulneráveis. Essa faixa etária, muitas vezes em início de vida financeira, possui um histórico de crédito limitado, o que pode dificultar a detecção de atividades fraudulentas por sistemas de segurança menos robustos.

O volume total de tentativas de fraude no Brasil, que ultrapassou a marca de 1 milhão pelo quarto mês consecutivo em abril de 2025, com uma ocorrência a cada 2,4 segundos, reforça a urgência da situação. Esse dado sublinha a persistência e a escala do problema, que afeta não apenas indivíduos, mas também a economia e a confiança nas transações digitais.

Caio Rocha, Diretor de Autenticação e Prevenção à Fraude da Serasa Experian, destaca a evolução e a sofisticação das táticas de fraude. "De modo geral, as tentativas de fraude seguem em evolução acelerada, impulsionadas por tecnologias como inteligência artificial e pela sofisticação das táticas de engenharia social. Já não se trata apenas de volume, mas de qualidade dos golpes", afirma Rocha.

Ele enfatiza a importância de estratégias antifraude em camadas para combater essa ameaça crescente. "Neste cenário, a adoção de estratégias antifraude em camadas é indispensável. Soluções integradas que atuam em diferentes etapas da jornada digital permitem identificar comportamentos suspeitos com mais precisão e agir de forma preventiva, reduzindo os riscos antes mesmo que a fraude se concretize. Além disso, é essencial promover a conscientização contínua dos consumidores, que seguem sendo alvos dos golpistas", completa o diretor.

Rocha também reitera a preocupação com o público jovem: "O crescimento expressivo das fraudes entre os mais jovens acende um alerta importante. Esse grupo, muitas vezes com pouco histórico de crédito e menos familiaridade com armadilhas digitais, se tornou um novo alvo estratégico para os golpistas. É fundamental que a proteção contra fraudes comece desde cedo, com acesso à informação e educação digital, além de ferramentas de monitoramento e revisão constante dos processos em cada etapa da jornada por parte das empresas, de modo a garantir proteção em camadas em todo o processo, do cadastro do cliente à compra".

Embora os jovens estejam se tornando um alvo crescente, os adultos economicamente ativos continuam sendo o principal foco dos golpistas. Em abril de 2025, a faixa etária de 36 a 50 anos foi a mais atingida pelas tentativas de fraude, respondendo por um terço (33%) das ocorrências detectadas. Em seguida, aparecem os grupos de 26 a 35 anos (26,3%) e aqueles com até 25 anos (15%).

No entanto, a análise comparativa com abril de 2024 revela uma mudança significativa no perfil das vítimas. O maior crescimento proporcional foi registrado entre os mais jovens, com a participação das vítimas com até 25 anos aumentando 50,2%. As faixas de 26 a 35 anos e 36 a 50 anos também apresentaram altas significativas, de 38,2% e 26,8%, respectivamente. Entre os públicos mais velhos, a participação de 51 a 60 anos cresceu 21,1%, enquanto o grupo acima de 60 anos teve aumento de 11,7% no período. Esses dados reforçam que, embora com menor volume total, os fraudadores seguem mirando perfis mais vulneráveis em termos de experiência digital ou acesso à informação [1].

O setor de Bancos e Cartões manteve sua posição como o principal alvo das tentativas de fraude no Brasil, concentrando 54,2% dos registros em abril de 2025. Este dado sublinha a atratividade dos serviços financeiros para os golpistas, que buscam acesso a contas bancárias e dados de cartões para realizar transações ilícitas. Em seguida, aparecem os setores de Serviços (30,9%), Financeiras (7,2%), Telefonia (5,8%) e Varejo (1,9%).

No entanto, o destaque em termos de crescimento anual foi o setor de Telefonia, que apresentou o maior salto, com um aumento de 61,1% nas tentativas de fraude em relação a abril de 2024. Esse crescimento pode ser atribuído à crescente digitalização dos serviços de telecomunicações e à utilização de números de telefone para autenticação em diversas plataformas. Bancos e Cartões também registraram um aumento considerável de 32,9%, enquanto Serviços tiveram alta de 23,9%. Financeiras e Varejo apresentaram aumentos de 19% e 9,5%, respectivamente, indicando que todos os segmentos estão sob pressão crescente dos fraudadores.

Na análise por modalidade, a maioria das investidas golpistas foram identificadas por inconsistências cadastrais, representando 52,1% das tentativas evitadas em abril de 2025. Essa categoria abrange divergências em dados pessoais fornecidos no momento do cadastro, como CPF, nome, endereço ou telefone, que não coincidem com fontes confiáveis ou apresentam sinais de manipulação. Isso demonstra a importância da verificação de dados no momento da entrada de novos clientes ou na atualização de cadastros.

Em segundo lugar, com 39,9% das tentativas evitadas, estão os alertas relacionados à autenticidade de documentos e verificação biométrica. Isso ressalta a necessidade de tecnologias robustas para validar a identidade dos usuários. Por fim, comportamentos suspeitos em dispositivos, como acessos a partir de equipamentos vinculados a tentativas de fraude anteriores ou padrões anômalos de navegação, representaram 8% das fraudes barradas no período. Essa modalidade destaca a importância do monitoramento contínuo do comportamento do usuário para identificar anomalias.

A região Sudeste continua sendo o epicentro das tentativas de fraude no país, com 521.451 ocorrências em abril de 2025, o que representa 47,3% do total nacional. O ranking segue com Nordeste (246.550), Sul (177.351), Norte (79.431) e Centro-Oeste (76.627).

No entanto, a análise da variação anual por região revela um cenário dinâmico. O Norte liderou o avanço proporcional, com um aumento de 38,3% nas tentativas de fraude em relação ao mesmo mês do ano anterior. O Nordeste também apresentou forte crescimento (+33,7%), com destaque para estados como o Amazonas (+42,2%), Pará (+41,4%) e Maranhão (+38,9%).

São Paulo liderou isoladamente em quantidade mensal de registros, com 301.195 ocorrências, seguido por Rio de Janeiro (104.117) e Minas Gerais (96.161). Apesar de já concentrarem volumes elevados, Sudeste (+29,9%) e Centro-Oeste (+27,3%) também registraram crescimento relevante. A região Sul, embora tenha os menores índices de variação, ainda apresentou aumento de 23,1%, com destaque para o Paraná, que somou mais de 70 mil ocorrências no mês.

Na análise proporcional à população, o Distrito Federal apresentou a maior taxa de tentativas de fraude em abril de 2025, com 7.759 ocorrências por milhão de habitantes, seguido por São Paulo (6.540), Mato Grosso (6.093) e Rio de Janeiro (6.045), todos acima da média nacional de 5.166. Maranhão (3.105), Roraima (3.123) e Piauí (3.361) registraram as menores densidades, mas alguns desses estados tiveram altas expressivas na comparação anual, indicando uma possível interiorização das fraudes.

Para combater o avanço das fraudes digitais, a Serasa Experian oferece dicas valiosas para consumidores e empresas:

Para Consumidores:

  • Segurança de Dados: Garanta que seu documento, celular e cartões estejam seguros e com senhas fortes para acesso aos aplicativos.
  • Desconfie de Ofertas Irresistíveis: Desconfie de ofertas de produtos e serviços, como viagens, com preços muito abaixo do mercado. Criminosos usam nomes de lojas conhecidas para tentar invadir seu computador, valendo-se de e-mails, SMS e réplicas de sites para coletar informações e dados.
  • Atenção a Links e Arquivos: Cuidado com links e arquivos compartilhados em grupos de mensagens de redes sociais. Eles podem ser maliciosos e direcionar para páginas não seguras, que contaminam os dispositivos.
  • Pix Seguro: Cadastre suas chaves Pix apenas nos canais oficiais dos bancos (aplicativo bancário, Internet Banking ou agências).
  • Senhas e Códigos: Não forneça senhas ou códigos de acesso fora do site do banco ou do aplicativo.
  • Confirmação de Transferências: Não faça transferências para amigos ou parentes sem confirmar por ligação ou pessoalmente que realmente se trata da pessoa, pois o contato pode ter sido clonado ou falsificado.
  • Ambiente Seguro: Inclua suas informações pessoais e dados de cartão somente se tiver certeza de que se trata de um ambiente seguro.
  • Monitore seu CPF: Monitore seu CPF com frequência para garantir que não foi vítima de fraude.

Para Empresas:

  • Tecnologia Antifraude: Invista em tecnologias de prevenção à fraude para proteger a integridade e a segurança das operações da sua empresa.
  • Prevenção em Camadas: Em um ambiente de negócios cada vez mais digital e interconectado, a prevenção à fraude em camadas não é apenas uma boa prática, mas uma necessidade estratégica.
  • Qualidade dos Dados: Garanta a qualidade e a veracidade dos dados das soluções de prevenção à fraude a partir de soluções que se aprimorem constantemente diante das mudanças e ameaças.
  • Entendimento do Usuário: Entenda profundamente o perfil do seu usuário e busque constantemente minimizar pontos de fricção em sua jornada digital, garantindo uma experiência fluida e sem comprometer a segurança.
  • Fraude como Alavanca de Receita: Utilize a prevenção à fraude como uma alavanca para gerar receita, implementando uma orquestração inteligente de soluções que maximize a segurança, reduza perdas e permita uma experiência de compra mais ágil e confiável para o cliente.

O cenário das fraudes digitais no Brasil, com o alarmante crescimento entre os jovens e a persistência de altos volumes de tentativas, reforça a complexidade e a urgência do problema. A sofisticação dos golpistas, impulsionada por novas tecnologias como a inteligência artificial, exige uma resposta multifacetada que combine tecnologia avançada, educação digital e colaboração entre empresas e consumidores. A Serasa Experian, com seus indicadores e alertas, desempenha um papel crucial ao fornecer dados que permitem a compreensão e o combate a essas ameaças. A proteção contra fraudes não é apenas uma responsabilidade individual ou corporativa, mas um esforço coletivo contínuo para garantir um ambiente digital mais seguro e confiável para todos os brasileiros.

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