![]() |
fonte: IA |
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) divulgaram os resultados da Pesquisa de Conectividade Significativa, um estudo abrangente que analisa o cenário da conexão digital no Brasil sob as perspectivas de dispositivos, habilidades digitais e uso da franquia de dados. A pesquisa oferece insights cruciais para a formulação de políticas públicas mais eficazes, buscando a inclusão digital e a conectividade plena para todos os cidadãos.
O levantamento da Pesquisa de Conectividade Significativa reforça a centralidade do celular como o principal dispositivo para a maioria das atividades online no Brasil. No entanto, a pesquisa evidencia uma clara disparidade na posse de celulares por faixa de renda. Indivíduos com renda de até 1 salário mínimo (SM) possuem predominantemente aparelhos com valor de compra inferior a mil reais (51%), enquanto faixas de renda mais elevadas utilizam aparelhos mais caros, indicando a influência da barreira financeira no acesso a dispositivos mais robustos. Apesar dessa diferença de valor, mais de 50% dos entrevistados em todas as faixas de renda possuem o aparelho celular há menos de dois anos, sugerindo que a maioria da população dispõe de celulares relativamente novos.
Um desafio significativo revelado pelo estudo é a lacuna na posse de computadores. Quase metade (47,3%) das pessoas que não possuem computador de mesa ou portátil informou que o principal motivo é o alto custo de aquisição. Além disso, a falta de interesse e o desconhecimento sobre como utilizar o equipamento somam quase 30% dos entrevistados. Essa lacuna é preocupante, pois as pessoas geralmente preferem usar computadores, em vez de celulares, para tarefas essenciais como acessar serviços governamentais, bancários, atendimento médico e fazer compras online.
Um dos pontos mais sensíveis abordados pelo estudo é o tempo sem internet móvel devido à falta de franquia de dados. A pesquisa revela que 35% das pessoas com renda de até 1 salário mínimo e 35,6% das que recebem entre 1 e 3 salários mínimos ficaram sete dias ou mais sem acesso à internet móvel nos 30 dias anteriores ao levantamento. Esse cenário se agrava para os consumidores de menor renda: 11,6% ficaram mais de 15 dias sem acesso, valor quase seis vezes maior do que o observado entre aqueles com renda superior a 3 salários mínimos (2,2%).
A falta de franquia de dados e o acesso limitado ao Wi-Fi têm consequências diretas na vida dos brasileiros. A pesquisa aponta que 63,8% dos entrevistados deixaram de utilizar serviços bancários ou financeiros, 56,5% deixaram de acessar plataformas de serviços do governo, 55,2% deixaram de estudar e 52,3% deixaram de acessar serviços de saúde devido à ausência de conexão. Além disso, o estudo aborda o impacto da publicidade no consumo de dados, com mais de 50% dos entrevistados em todas as faixas de renda percebendo que vídeos de publicidade aparecem com muita frequência.
O levantamento avaliou o nível de satisfação dos consumidores em quatro aspectos cruciais: dispositivo, infraestrutura (serviços de internet fixa e móvel), habilidades digitais e atendimento das necessidades de conexão. As notas médias nacionais da avaliação dos consumidores foram:
- Aparelho celular: 8,3
- Habilidades digitais: 8,2
- Infraestrutura (internet fixa e móvel): 7,6
- Atendimento às necessidades de conexão: 7,8
Embora as notas de satisfação com o aparelho celular e as habilidades digitais sejam relativamente elevadas, a pesquisa aponta que a satisfação com as habilidades digitais é significativamente menor entre os mais vulneráveis, como pessoas com renda de até 1 salário mínimo e idosos. Adicionalmente, o estudo sugere um possível descasamento entre a autopercepção do nível de habilidades digitais e a existência real dessas habilidades, indicando que as pessoas podem se considerar mais aptas a lidar com o mundo digital do que de fato estão.
O conselheiro Vicente Aquino, presidente do Comitê de Defesa dos Usuários dos Serviços de Telecomunicações (CDUST), ressalta que “a pesquisa mostra, com números na mão, as dificuldades que o nosso povo ainda enfrenta para se conectar. E deixa claro onde estão os maiores problemas, que precisam da ação firme do Regulador para serem resolvidos”.
Para a conselheira diretora da Anatel Cristiana Camarate, “os resultados da pesquisa apontam caminhos para aperfeiçoar iniciativas específicas de desenvolvimento da conectividade significativa, visando à inclusão digital de todos os cidadãos”.
Luã Cruz, coordenador do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Idec, afirma que “os dados da pesquisa escancaram que a desigualdade também é perpetuada por desafios à conectividade, como apontam os números sobre custos e o impacto das limitações na franquia. A partir disso, porém, vemos um necessário caminho: a promoção de conectividade significativa é essencial para a defesa e a promoção de direitos fundamentais”.
A superintendente de relações com consumidores da Anatel, Irani Cardoso da Silva, reforça a importância do estudo: “a pesquisa traz informações cruciais para a formulação de ações e políticas públicas mais eficazes, especialmente quanto ao uso de computadores e à franquia de dados da internet móvel”.
A pesquisa, realizada entre agosto de 2023 e junho de 2024, foi feita por telefone, com 593 pessoas, utilizando o método CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing), e teve abrangência nacional. Foram entrevistados usuários dos serviços de telefonia celular (pré e pós-paga) ou banda larga fixa, com mais de 18 anos.
A pesquisa completa pode ser acessa neste site
Comentários
Postar um comentário