Atividade do comércio brasileiro recua 1,5% em agosto

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Flavio Sartori

O varejo físico brasileiro registrou uma queda de 1,5% em agosto de 2025 em comparação com o mês anterior, conforme revelado pelo Indicador de Atividade do Comércio da Serasa Experian. A retração, que surpreendeu mesmo com a movimentação gerada pelo Dia dos Pais, foi majoritariamente impulsionada pelo desempenho negativo de setores como Motos, Veículos e Peças, que apresentaram uma diminuição de 6,4% nas vendas. Este cenário reflete a persistência de juros elevados e a crescente cautela dos consumidores, especialmente em compras de maior valor e dependentes de financiamento.

A economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, destacou que a redução na atividade comercial é um reflexo direto dos juros elevados, que atingiram patamares significativos em 2025. A taxa Selic, por exemplo, iniciou o ano em 12,25% e alcançou 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. Este cenário impacta diretamente segmentos que dependem de financiamento, como o de veículos, onde os valores de compra são mais elevados. A ata do Copom de setembro de 2025 indicou que a Selic deve permanecer em 15% por um período prolongado, sinalizando que a cautela no consumo deve persistir.

Em contrapartida, a melhora nos preços dos alimentos e a resiliência do mercado de trabalho, com crescimento da renda real, contribuíram para a sustentação do consumo básico. Isso se refletiu no avanço de 0,2% do setor de Supermercados, Hipermercados, Alimentos e Bebidas em agosto, demonstrando a priorização de gastos essenciais pelos consumidores.

Embora tenha havido um crescimento de 2,1% na comparação entre agosto de 2025 e o mesmo mês do ano anterior, os dados da Serasa Experian indicam uma perda de dinamismo no varejo. Esta foi a menor variação interanual registrada em 2025, um contraste com os primeiros meses do ano, que chegaram a atingir 5,3% de alta. Outros indicadores também corroboram essa desaceleração, com o faturamento do varejo recuando 1,4% em termos reais em agosto, segundo o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA).

Setores como "Móveis, Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos e Informática" (5,3%) e "Tecidos, Vestuário, Calçados e Acessórios" (5,0%) impulsionaram a alta na análise anual, seguidos por "Supermercados, Hipermercados, Alimentos e Bebidas" (3,3%). No entanto, "Veículos, Motos e Peças" registraram retração de -4,3% na comparação anual, reforçando o impacto dos juros sobre bens duráveis.

A economista da Serasa Experian prevê que a desaceleração deve se manter ao longo do segundo semestre de 2025. A maior cautela dos consumidores nas compras a prazo, diante de juros elevados e pressão sobre o orçamento familiar, continuará afetando principalmente os setores mais sensíveis ao crédito. O comportamento do consumidor em 2025 é marcado por uma prudência financeira acentuada, com foco em saúde e sustentabilidade, e uma tendência a pesquisar online antes de finalizar compras em lojas físicas.

O sentimento do consumidor brasileiro, apesar de uma recuperação em agosto de 2025, ainda reflete um cenário de incertezas, com a maioria optando por um consumo mais moderado e consciente.

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