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foto : IA |
O comércio eletrônico no Brasil, apesar de seu crescimento exponencial e da digitalização cada vez maior dos hábitos de consumo, enfrenta um desafio persistente e significativo: o alto custo do frete. Este fator, muitas vezes subestimado, emerge como um dos principais responsáveis pelo abandono de carrinhos, impactando diretamente a taxa de conversão e a lucratividade das empresas. Dados recentes revelam que mais da metade dos consumidores brasileiros desiste de uma compra online ao se deparar com um valor de entrega considerado elevado, transformando o frete de um serviço essencial em um verdadeiro vilão silencioso para o e-commerce nacional.
O valor do frete exerce um peso psicológico considerável na decisão de compra online. Mesmo diante de promoções atraentes ou preços competitivos, muitos consumidores brasileiros abandonam seus carrinhos quando o custo da entrega é percebido como excessivo. Essa percepção transforma rapidamente uma oportunidade de compra em uma despesa inviável ou injustificável na mente do cliente.
Esse fenômeno está intrinsecamente ligado ao conceito de preço psicológico. Quando o valor do frete excede o que o comprador está disposto a pagar – muitas vezes influenciado por experiências anteriores de frete grátis ou reduzido – gera-se uma resistência imediata, culminando no abandono da compra.
Diversos elementos contribuem para o preço elevado do frete no comércio eletrônico brasileiro. Primeiramente, as dimensões continentais do país impõem uma complexidade logística inerente, especialmente para entregas em regiões distantes dos grandes centros urbanos. Além disso, a infraestrutura de transporte nacional apresenta limitações significativas, como estradas precárias e serviços de entrega que nem sempre são confiáveis.
- Dimensão geográfica: O Brasil, sendo o quinto maior país do mundo, apresenta desafios logísticos únicos para a distribuição de mercadorias.
- Custo do combustível e manutenção: A inflação recorrente impacta diretamente os custos operacionais das transportadoras.
- Burocracia e tributação: Processos tributários complexos elevam o valor final do envio.
Um relatório do Sebrae corrobora que esses fatores tornam a logística uma das partes mais onerosas da operação para o e-commerce no Brasil.
Apesar das dificuldades, muitos lojistas têm buscado alternativas para mitigar os altos custos e, assim, aumentar as conversões. Algumas estratégias eficazes incluem:
- Parcerias com operadores logísticos: Acordos com transportadoras regionais podem gerar melhores condições negociais.
- Centros de distribuição descentralizados: Criar pequenos estoques estratégicos em diferentes regiões reduz a distância e o prazo de entrega.
- Política de frete grátis a partir de um valor: Estimular compras maiores dilui o custo do frete e melhora a percepção do consumidor.
- Uso de tecnologia Investimento em sistemas de gestão logística e inteligência artificial otimizam rotas e preveem custos com mais assertividade.
Além disso, a transparência quanto ao prazo e às modalidades de entrega demonstra respeito ao consumidor e pode aumentar as chances de conversão, mesmo quando o frete não é gratuito.
Para minimizar o impacto negativo do frete, é fundamental adotar práticas que alinhem as expectativas dos consumidores e ofereçam novas vantagens competitivas. Informar claramente as políticas de frete, oferecer opções de entrega expressa ou econômica e criar campanhas sazonais de frete grátis são exemplos de ações que podem mudar o comportamento do consumidor.
Outra estratégia eficaz é utilizar o frete como ferramenta de fidelização, criando programas de vantagens para clientes frequentes. De acordo com estudos do IBGE, muitas empresas conseguem manter a recorrência de compras e aumentar o ticket médio ao oferecer benefícios logísticos inteligentes.
O estudo “Panorama da Gestão Logística no E-commerce Brasileiro”, realizado pela nstech em parceria com a Frete Rápido, revela que a gestão de fretes ainda é um dos principais gargalos operacionais do setor. Cerca de 51% das empresas consideram grande o impacto do custo do frete nos carrinhos abandonados. Além disso, 24,2% das empresas já perderam oportunidades comerciais devido a limitações em seus sistemas logísticos.
Apesar do e-commerce ter nascido digital, a logística ainda enfrenta entraves estruturais, falta de integração tecnológica e altos custos operacionais. A dependência de serviços terceirizados para as entregas é alta, com 72,9% das lojas utilizando transportadoras terceirizadas. A falta de controle sobre custos, visibilidade em tempo real e integração com parceiros afeta não apenas a experiência do cliente, mas também as margens de lucro.
O relatório da nstech e Frete Rápido também traça uma visão para o futuro da logística no e-commerce, destacando investimentos em automação, omnichannel e novos modelos operacionais. Entre os entrevistados, 38,7% consideram fundamental um novo sistema de gestão logística já no próximo ano, e 31,3% pretendem expandir para marketplaces.
A tendência é que, com inovações tecnológicas, expansão das políticas de hubs logísticos e digitalização dos processos de entrega, haja uma queda gradual no valor do frete e maior eficiência nas entregas. A concorrência crescente no segmento de transportes também tende a favorecer o consumidor com mais opções e preços competitivos.
Empreendedores que acompanham essas mudanças e investem em melhoria contínua certamente terão vantagem competitiva, especialmente em um mercado que valoriza cada vez mais a experiência de compra como um todo.
O valor do frete representa, atualmente, um dos principais obstáculos para o crescimento do e-commerce brasileiro. Ao compreender os fatores que compõem esse custo e adotar estratégias criativas para reduzi-lo ou amenizá-lo, os lojistas online podem conquistar mais clientes, aumentar sua taxa de conversão e construir um diferencial competitivo importante em seus mercados. Mais do que ficar refém das dificuldades logísticas, a chave está em buscar soluções adaptáveis e empáticas que realmente atendam às expectativas do consumidor brasileiro.
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