Passageiros já são digitais — mas o setor de viagens ainda não acompanha o ritmo

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Flavio Sartori

A experiência de viajar ainda está longe de acompanhar o comportamento digital dos passageiros da América Latina e do Caribe. Embora utilizem smartphones para quase tudo — do banco às compras e mobilidade —, os viajantes da região continuam enfrentando longas filas, verificações manuais e o uso excessivo de documentos em papel nos aeroportos.

É o que revela o Travelers’ Voice 2025, novo relatório da SITA, empresa global de tecnologia para o setor aéreo. O estudo, baseado em entrevistas com mais de 7.500 passageiros em todo o mundo, aponta que os latino-americanos estão prontos para uma transformação digital nas viagens e esperam jornadas mais simples, sustentáveis e integradas.

A principal demanda dos viajantes da região é reduzir o tempo gasto nos aeroportos: dois em cada três consideram o tempo de processamento sua maior prioridade. Além disso, 42% desejam receber notificações e atualizações de voo diretamente em aplicativos — número superior à média global.

O interesse por viagens intermodais, que combinam avião, trem e transporte rodoviário, também é destaque: 87% dos entrevistados na América Latina e Caribe pretendem reservar ao menos uma viagem integrada no próximo ano, bem acima da média mundial de 70%.

Apesar disso, a experiência atual ainda é marcada pela burocracia. Três em cada quatro passageiros têm a identidade verificada manualmente por um agente, 80% embarcam apenas após a checagem física dos documentos e quase 75% passam pela imigração com inspeção presencial — os índices mais altos do mundo.

“Os passageiros não estão resistindo à mudança. Eles já mudaram”, afirmou David Lavorel, CEO da SITA. “Eles se tornaram digitais. Agora é a nossa vez. O futuro das viagens não é apenas sobre tecnologia, mas sobre eliminar barreiras.”

Os viajantes latino-americanos se destacam também pela abertura ao uso de identidades digitais e biometria. Segundo o relatório, 95% dos passageiros da região gostariam que todos os documentos de viagem estivessem integrados em uma carteira digital segura no celular — o maior índice entre todas as regiões pesquisadas.

Além disso, são mais receptivos à emissão de credenciais digitais por entidades não governamentais e ao uso da biometria em todos os pontos de contato do aeroporto, do check-in ao embarque.

A sustentabilidade também tem peso crescente nas decisões de viagem. Dois terços (67%) dos passageiros da LAC afirmaram que levariam menos bagagem para reduzir as emissões de carbono — uma porcentagem bem superior à média global de 55%.

Mesmo com índices recordes de baixa no extravio de bagagens, 83% dos viajantes latino-americanos afirmam que estariam dispostos a pagar por serviços completos de rastreamento, demonstrando que confiança e tranquilidade são fatores decisivos.

“As companhias aéreas e os aeroportos da América Latina e do Caribe já avançaram na modernização da experiência de viagem, e os passageiros estão respondendo positivamente”, destacou Shawn Gregor, presidente da SITA para as Américas. “O desafio agora é acelerar a adoção de identidades digitais, biometria e dados em tempo real para criar viagens mais rápidas e sustentáveis.”

Para Lavorel, a transição para uma aviação totalmente digital não depende mais da disposição dos passageiros, e sim da velocidade do setor em se adaptar:

“Durante anos, pedimos que os passageiros se adaptassem às viagens. Agora, eles pedem que as viagens se adaptem a eles. Temos as ferramentas — biometria, identidades digitais, dados em tempo real e bagagens inteligentes. O que falta é urgência.”

O Travelers’ Voice 2025 integra a série Passenger IT Insights da SITA, que há mais de uma década analisa tendências tecnológicas e comportamentais no setor aéreo. A mensagem deste ano é clara: os passageiros da América Latina e do Caribe já vivem uma vida digital — e esperam que o ato de viajar finalmente alcance essa realidade.

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