Empresas brasileiras conseguem recuperar 38,4% das dívidas negativadas em até 60 dias, mostra Serasa Experian
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| imagem gerada por IA |
A recuperação de crédito entre empresas brasileiras segue em queda e evidencia um cenário cada vez mais desafiador para credores e para o ambiente de negócios. De acordo com o Indicador de Recuperação de Crédito da Serasa Experian, do total de dívidas negativadas em julho de 2025, apenas 38,4% foram pagas ou renegociadas em até 60 dias, isto é, até setembro. O resultado ocorre em meio a um quadro de inadimplência elevada, com 8,1 milhões de CNPJs negativados no país, dos quais 7,7 milhões são de micro, pequenas e médias empresas.
O estudo mostra que a capacidade de recuperação varia significativamente entre os setores da economia. As empresas de Utilities – responsáveis por contas de água, luz e gás – apresentaram o melhor desempenho, com 43,0% das dívidas negativadas em julho sendo resolvidas em até dois meses. Na outra ponta, o setor de Telefonia registrou a menor taxa de recuperação, de apenas 15,1%, evidenciando maior dificuldade das companhias em regularizar esse tipo de compromisso financeiro.
A economista-chefe da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, avalia que o aumento consistente da inadimplência desde janeiro de 2025 alterou o perfil da carteira em atraso, incorporando um número maior de empresas em situação crítica e com menor capacidade de pagamento. Segundo ela, o momento de negativação também é decisivo para o credor. Entre as dívidas vencidas há até 30 dias e negativadas em julho, 43,7% foram sanadas em até 60 dias, o melhor índice observado. Já entre as dívidas com mais de um ano de atraso, negativadas apenas em julho, a taxa de resolução caiu para 19,0%, o que reforça a importância de uma gestão ativa e tempestiva por parte dos credores.
Os dados históricos do indicador revelam ainda uma trajetória de deterioração da recuperação de crédito. A taxa média de recuperação em até 60 dias de dívidas negativadas foi de 48,3% em 2023, recuou para 41,8% em 2024 e caiu para 38,7% até julho de 2025. Para Abdelmalack, essa piora está relacionada ao cenário econômico mais adverso, marcado por sucessivos aumentos da taxa Selic. Juros mais altos desestimulam a busca por crédito caro e fazem com que a negativação do CNPJ deixe de ser um problema de curtíssimo prazo para muitas empresas. Ao mesmo tempo, aquelas que ainda recorrem ao crédito para manter o fluxo de caixa encontram mais barreiras, devido à maior cautela dos credores na concessão.
Na análise por faixas de valor, o estudo aponta que as dívidas de menor montante são as que têm maior probabilidade de serem resolvidas. As contas de até R$ 500 apresentaram taxa de recuperação de 46,7% em até 60 dias, o melhor desempenho nessa segmentação. Já as dívidas entre R$ 2 mil e R$ 10 mil tiveram o pior resultado, indicando maior dificuldade das empresas em liquidar compromissos de valor intermediário, que pressionam o caixa, mas não chegam ao patamar das grandes dívidas corporativas.
As disparidades regionais também chamam atenção. Considerando as dívidas inadimplidas em julho de 2025 e sanadas em até 60 dias, o Piauí liderou o ranking de recuperação, com índice de 62,6%. Em seguida aparecem Espírito Santo (53,3%), Ceará (52,8%), Acre (52,3%) e Maranhão (51,5%), todos com taxas acima da média nacional. Na outra extremidade, os piores resultados foram registrados em Santa Catarina (35,6%), Rio Grande do Sul (35,1%), São Paulo (32,3%), Distrito Federal (26,6%) e Amazonas (19,8%), sugerindo diferenças relevantes no ambiente de negócios, na gestão de crédito e na capacidade de pagamento entre as unidades da federação.
Para credores, os números reforçam a urgência de estratégias mais ágeis e assertivas de gestão de risco e cobrança, sobretudo em um contexto de juros elevados e aperto nas condições de crédito. Para as empresas de todos os portes, os dados da Serasa Experian funcionam como um alerta sobre a importância do planejamento financeiro, da renegociação antecipada de dívidas e da preservação do histórico de crédito como ativo essencial para a continuidade das operações.

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