O CEO do Spotify e a IA de Defesa: O Investimento de Daniel Ek na Helsing e a Revolta dos Artistas

imagem gerada por IA

O empresário sueco Daniel Ek, cofundador e CEO da gigante do streaming de música Spotify, está no centro de uma intensa controvérsia que une o mundo da tecnologia, o setor de defesa e a indústria musical. O motivo é o seu substancial investimento na Helsing, uma startup europeia de tecnologia de defesa que utiliza Inteligência Artificial (IA) para operações militares.

Em junho de 2025, a empresa de capital de risco de Daniel Ek, a Prima Materia, liderou uma rodada de financiamento de €600 milhões (aproximadamente R$3.7 bilhôes) na Helsing .
Ek, que também atua como presidente do conselho da Helsing, demonstrou um compromisso significativo com o setor de defesa, que ele vê como crucial para a "soberania tecnológica" da Europa em um cenário geopolítico em evolução.

A Helsing, sediada em Munique, Alemanha, e com operações no Reino Unido e na França, não é uma empresa de IA comum. Ela se especializa em fornecer software que utiliza IA para analisar grandes volumes de dados de sensores e sistemas de armas em tempo real no campo de batalha, auxiliando na tomada de decisões militares. Além disso, a empresa desenvolve e fabrica seus próprios drones militares, como o modelo HX-2.

O investimento de Ek ocorre em um momento em que a tecnologia de defesa se tornou uma área de grande interesse para investidores, impulsionada por conflitos globais, como a guerra na Ucrânia. A Helsing afirmou que o novo capital será usado para investir na soberania tecnológica da Europa, garantindo o desenvolvimento e a produção de tecnologias críticas

A notícia do investimento de Ek na tecnologia de defesa militar gerou uma onda de críticas e protestos na comunidade musical, culminando em pedidos de boicote ao Spotify.

Artistas e bandas expressaram preocupação com a ética de um CEO de uma plataforma de música lucrar com o desenvolvimento de tecnologia de guerra.

A revolta dos artistas e usuários foi intensificada por uma controvérsia anterior, na qual o Spotify veiculou anúncios de recrutamento para o ICE (Immigration and Customs Enforcement), a agência de fiscalização de imigração dos EUA. Os anúncios, que incluíam frases como "ilegais perigosos", geraram um forte boicote de usuários e ativistas, que acusaram a plataforma de explorar o trabalho de artistas para financiar uma agência controversa. O Spotify defendeu a veiculação, alegando que os anúncios não violavam suas políticas.

A banda Massive Attack foi um dos nomes mais proeminentes a retirar seu catálogo do Spotify em protesto. Em um comunicado, a banda declarou que o "fardo econômico" que há muito tempo é imposto aos artistas pelo streaming agora é "agravado por um fardo moral e ético", onde o dinheiro dos fãs e o trabalho criativo dos músicos acabam financiando "tecnologias letais e distópicas".

A controvérsia levou a um debate mais amplo sobre a responsabilidade moral das empresas de tecnologia e de seus líderes. Em resposta, um porta-voz do Spotify enfatizou que "Spotify e Helsing são duas empresas totalmente separadas". A Helsing, por sua vez, tentou mitigar a situação, afirmando que sua tecnologia está sendo usada apenas por países europeus para dissuasão e defesa contra a agressão russa na Ucrânia, e que a alegação de seu uso em outras zonas de conflito, como Gaza, é "desinformação".

Apesar das declarações, a pressão sobre Daniel Ek e o Spotify continua. A iniciativa No Music for Genocide, que pede o bloqueio de músicas em serviços de streaming em Israel, também ganhou força, com artistas como Massive Attack ligando a ação à necessidade de um posicionamento ético contra a violência e a guerra.

O caso de Daniel Ek e a Helsing ilustra a crescente interconexão entre o capital de risco, a tecnologia de ponta e o complexo militar-industrial, forçando a indústria cultural a confrontar as implicações éticas das fontes de financiamento de seus líderes. A pressão gerada pela controvérsia foi tão intensa que, em setembro de 2025, Ek anunciou que deixaria o cargo de CEO do Spotify no início de 2026, assumindo a presidência executiva, em uma mudança de liderança que a mídia especializada ligou diretamente aos protestos.

O investimento de €600 milhões catapultou a Helsing para uma avaliação de €12 bilhões, consolidando-a como uma das cinco maiores empresas privadas de tecnologia da Europa e a maior aposta do continente na defesa com IA. A mídia especializada em negócios e tecnologia interpretou o movimento de Ek como uma resposta à necessidade de reconfiguração da indústria de defesa europeia, impulsionada pela guerra na Ucrânia e pela busca por "soberania tecnológica". A Helsing é vista como uma tentativa de preencher o déficit europeu em software militar, buscando ser para a Europa o que a Palantir é para os EUA.

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