São Paulo libera beneficios fiscais para devedores bilionarios

 Reprodução/Facebook de Tarcísio de Freitas

Flavio Sartori

O governo do Estado de São Paulo vem concedendo benefícios fiscais e condições especiais de renegociação a empresas que acumulam dívidas bilionárias em impostos, sobretudo ICMS, reacendendo o debate sobre justiça tributária e tratamento diferenciado a grandes devedores. Documentos da Dívida Ativa paulista e dados oficiais de benefícios fiscais mostram que, apenas em um recorte recente, 28 empresas com débitos que somam cerca de R$ 20,3 bilhões foram contempladas com aproximadamente R$ 289 milhões em créditos outorgados de ICMS.​

Entre as empresas citadas nesse cruzamento de informações estão alguns dos maiores grupos econômicos do país, que aparecem simultaneamente na lista de grandes devedores e na relação de beneficiários de incentivos fiscais. Pelo menos quatro nomes se destacam nos levantamentos: BRF (alimentos), Claro (telecomunicações), Gerdau (siderurgia) e White Martins (gases industriais), todos apontados com dívidas tributárias elevadas em São Paulo e participação nos programas de crédito outorgado de ICMS. Juntas com as demais empresas do grupo de 28, essas companhias integram um universo que concentra dívidas bilionárias e ainda assim acessa renúncias e vantagens tributárias concedidas pelo Estado.

Os benefícios se dão principalmente por meio de créditos outorgados e outros mecanismos de renúncia de ICMS, além de programas de transação e parcelamento de débitos, que reduzem juros, multas e permitem longos prazos de pagamento. Em iniciativas como o Acordo Paulista, empresas com dívidas já inscritas em Dívida Ativa podem obter descontos expressivos e condições facilitadas, o que, na prática, torna mais barato regularizar valores que deixaram de ser pagos ao fisco ao longo dos anos.

A gestão estadual sustenta que a política de benefícios e renegociações serve para recuperar créditos considerados de difícil recebimento, preservar empregos e manter a competitividade da economia paulista. O governo afirma ainda ter promovido revisão de incentivos, com corte de parte das renúncias e tentativa de concentrar vantagens em setores com maior impacto em investimento e atividade econômica, estimando ganho potencial de arrecadação com essa revisão.

Especialistas em contas públicas e órgãos de controle, como o Tribunal de Contas do Estado, questionam a concessão de benefícios a empresas que figuram entre os maiores devedores, alertando para o risco de “premiar” quem sonega ou posterga sistematicamente o pagamento de tributos. Críticos argumentam que o tratamento dado a grandes grupos como BRF, Claro, Gerdau e White Martins contrasta com a rigidez aplicada a pequenos e médios contribuintes, além de reduzir recursos que poderiam ser destinados a áreas como saúde, educação e segurança. Nesse cenário, a lista de devedores beneficiados se tornou símbolo de uma disputa mais ampla sobre o papel do Estado: cobrar com rigor ou negociar amplamente com quem deve bilhões em impostos

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